quinta-feira, 26 de abril de 2012

Sobre a mentalidade policial que se instala

Todos conhecemos o termo «mentalidade policial». No caso do inspector Magina da Silva, responsável máximo pelo sinistro Corpo Especial de Polícia, tal mentalidade não denotaria mais do que uma deformação profissional espectável e pouco merecedora de comentários adicionais.

O que vem efectivamente causar espanto e merecer comentário são as declarações deste inspector sobre os acontecimentos de 22 de Março último. Assim, coisas que ficaram mal na fotografia, como aquele polícia que, entre todos os episódios de violência protagonizados quotidianamente por tantos colegas seus, teve o infortúnio de ter sido apanhado em flagrante a bater na jornalista com o bastão virado ao contrário, ou as inúmeras cabeças partidas que resultaram da intervenção policial no Largo do Chiado, são varridas para o seu lugar de direito, ou seja, para debaixo do tapete e, uma vez mais, iça-se, porque de outro pano não se dispõe, o esfarrapado espectro do «potencial de violência» de certos grupos de manifestantes para se justificarem derivas pidescas – ou, se quisermos tratar os bois pelos nomes e não ajudarmos a alimentar determinadas ilusões, democráticas, estatistas, autoritárias e burguesas – de controlo e repressão.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

1º de Maio de 2012

Se alguém tinha dúvidas esperamos que já não existam: os políticos  mentem-nos. Na nossa cara chamam-nos de piegas, pelas nossas costas  aprovam leis que nos proíbem de pedir reforma antecipada. Mentem-nos quando falam que os subsídios de férias e natal voltariam em 2014.  Mentem-nos, da esquerda à direita. E continuam a encher os seus bolsos  com dinheiro que deixa “buracos financeiros” que têm de ser cobertos  com o nosso suor e sangue.

 Entretanto, as centrais sindicais negoceiam com os inimigos de que forma é menos dolorosa morrer: que nos matem à fome devagarinho, ou se a polícia deveria disparar directamente na cabeça a todos os que não  respeitam o seu monopólio “revolucionário”.

 Quando lemos os jornais, ficamos com a sensação que a rua está cheia de ladrões encapuçados que se passeiam livremente enquanto nos roubam  e violam. Mas a realidade é que esses mesmos jornais pertencem aos  verdadeiros ladrões que, esses sim, se passeiam por aí de fato e  gravata impunemente e usam os polícias, pagos com o nosso dinheiro,  para impor o medo e o terror entre os que se revoltam contra a sua  ditadura democrática.

 Para o cenário ficar completo - quando nem a fome, nem a polícia, nem  as mentiras dos jornais nos conseguem controlar - entram em serviço os  fascistas, outros mercenários assassinos que, com os seus discursos  nacionalistas, patrióticos e racistas, tentam camuflar a realidade  apontando os seus dedos ensanguentados na direcção dos imigrantes,  como se eles fossem os culpados desta crise... ridículo...

 É por tudo isto, e muito mais, que é cada vez mais fundamental sair à rua, para protestar, para agir, para avançarmos. Este 1º de Maio  voltaremos a fazê-lo, pois o contrário seria pactuar com a repressão e  aceitar o medo.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Solidariedade total para com a Es.Col.A da Fontinha! Não ao despejo!

Vemos como tudo o que humaniza de alguma forma o espaço urbano e o torna reconhecível e especial , que confere à cidade a sua personalidade, a sua ambiência, o pano de fundo das memórias dos mais velhos, é deixado ao abandono ou mortificado em hotéis e espaços de consumo para os abastados. Em torno desse buraco negro de prédios antigos e belos deixados em ruínas que constitui o centro das nossas cidades, erguem-se, a grande custo e com o maior desprezo possível pela vida de quem tem por profissão construí-los, blocos disformes de betão onde apenas se descansa o corpo após mais um dia de trabalho.

Assim é o «problema urbano»: a ganância de proprietários e especuladores, que pretendem viver à custa de «fazer suar o seu dinheiro». Os prédios que são construídos para ficarem vazios. Os outros que são deixados vazios apenas para entrarem em ruína. As rendas insuportáveis que ainda deverão aumentar. A escravatura de trinta ou quarenta anos a um Banco até que uma pessoa possa finalmente dizer quem tem uma casa sua. A falta de espaços para tudo. A ausência de qualquer coisa que torne uma rua ou um bairro numa comunidade humana, em vez da mera coincidência no espaço de uma multidão de desconhecidos.

Mas esta situação é um estado de coisas buscado e desejado pelos detentores do poder político e económico. As câmaras vivem das licenças de construção, a Banca, do crédito à habitação, as construtoras, da construção, os proprietários, da especulação sobre os terrenos, que hão-de valer uma fortuna assim que se possa construir sobre eles. Vêem-se os resultados. E vê-se também como o Poder responde a quem tenta lutar contra estas coisas.

Assim aconteceu, esta manhã, com o despejo da antiga escola do Bairro da Fontinha, no Porto, onde funcionava desde há um ano o projecto Es.Col.A. Em face do apoio popular de que este projecto gozava e após uma tentativa gorada de despejo, a Câmara do Porto acabou prometendo a cedência do espaço, devoluto há cinco anos, caso os ocupantes se constituíssem em associação formal. A associação foi constituída, mas a cedência não veio: veio a exigência de assinarem um contrato onde acediam...ao seu próprio despejo. Tal proposta foi, evidentemente, recusada. A resposta da Câmara foi o envio do Corpo de Intervenção. Cerca das 10 da manhã, o bairro foi cercado por polícia fortemente armada, o edifício despejado, com o seu conteúdo a ser atirado pelas janelas, e seguidamente emparedado. Três pessoas foram detidas, e houve registo de agressões por parte da polícia, com uso, inclusive, de armas de choques eléctricos.

Por ruas que não sejam cemitérios, por edifícios que não sejam tumbas, recuperemos o espaço das nossas vidas!


Todo apoio para a Es.Col.A, liberdade imediata para os detidos!

sábado, 14 de abril de 2012

Carta Aberta da Es.Col.A do Alto da Fontinha



A promessa de suspensão do despejo do Es.Col.A revelou-se um logro. Politicamente forçada a dialogar com os ocupantes da antiga Escola Primária do Alto da Fontinha, a Câmara Municipal do Porto (CMP) mais não queria do que anunciar que o despejo se mantinha, embora adiado. Em reunião com dois delegados da Assembleia do Es.Col.A, os representantes da câmara exigiram que o projecto assinasse a sua sentença de morte, traduzida num contrato de aluguer com fim em Junho. A continuidade imediata do Es.Col.a dependeria da assinatura desse papel.