sexta-feira, 19 de junho de 2009

Massacre no Perú


Depois da assinatura do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, o governo do Perú aprovou em 2008 várias leis que facilitam a implementação de companhias petrolíferas, de gás, mineiras, turísticas, madeireiras, entre outras, em cerca de 60% das terras da Amazónia, para explorarem livremente os seus recursos. São exemplos destas empresas, a Perenco (França), a Petrobas (Brasil), a BPZ Energy (Estados Unidos), a Repsol (Espanha), etc.

As comunidades indígenas revoltaram-se de imediato contra estas leis que não só conduzirão à expropriação das suas terras como à própria destruição da Amazónia e desde Abril deste ano que os protestos se intensificaram, com o bloqueio pelas populações de alguns pontos estratégicos: diversas estradas, um porto fluvial, um pequeno aeródromo, etc. A 5 de Junho, durante um desses bloqueios, numa estrada da cidade de Bagua, a Norte do Perú, as tropas e polícias peruanas, com o aval de Alan García, presidente do país, atacaram violentamente os manifestantes, por terra e por ar. Desta repressão feroz do Estado, resultaram mais de 50 mortos, cerca de 150 feridos e 61 pessoas desaparecidas. As fotos destes acontecimentos revelam-nos um autêntico massacre, com corpos torturados, nus, com ferimentos de balas por armas de fogo ou queimaduras. Existem vários relatos de que as forças policiais nem sequer permitiram que as ambulâncias passassem para auxiliar os feridos durante longas horas. Há também o registo de cerca de 133 pessoas detidas, muitas delas sem qualquer acusação formal, sem entenderem verdadeiramente o que se passa porque não compreendem a língua em que lhes falam e sofrendo ainda represálias na prisão.

A repressão perpetuada pelo governo Peruano é a resposta normal de qualquer Estado face a quem se rebela contra o seu poder. Os interesses capitalistas das multinacionais que se querem instalar na Amazónia estão acima das próprias leis peruanas, pois o Estado não se coíbe de violar os seus tratados internacionais – que estabelecem a consulta prévia aos povos da Amazónia, antes de qualquer acção nos seus territórios – utilizando a “economia de mercado” ou o “desenvolvimento económico”, como justificações de todas as suas tiranias, suprimindo qualquer revolta popular.

As populações da Amazónia peruana, habituadas há muitos anos à perseguição estatal, não cruzaram os braços e continuam a lutar pelas suas terras, pela sua cultura e forma de vida. Incendiaram vários edifícios do Estado, sequestraram alguns agentes da polícia e convocaram uma greve nacional por tempo indefinido que está a ter uma grande adesão, com a paralisação de imensos sectores da economia. Houve mais feridos e algumas detenções nos vários protestos que se sucederam em diferentes regiões peruanas, e as comunidades indígenas apelam à solidariedade internacional. Porque a sua luta é também a nossa luta, comecemos desde já a mostrar a nossa solidariedade!