terça-feira, 28 de abril de 2009

Boletim Anarco-Sindicalista nº 31 - Abril-Maio 2009


Boletim Anarco-Sindicalista nº31 (em PDF):
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Alguns artigos neste número:

- 1º de Maio de 2009: “Lutar contra a crise”? Lutar contra o capitalismo!
- Continua, por todo o país, a vaga de encerramentos, despedimentos, suspensão de contratos de trabalho, falências e insolvências, em fábricas e empresas
- Porto: Iniciativa por um Movimento Popular de Desempregados e Precários
- Manifestação em Lisboa pelos direitos dos imigrantes
- Porto: mais condenações por “manifestação ilegal”
- Começou o julgamento dos “25 de Caxias”
- Grécia: Rumo a um movimento profundo?
- Argentina: Trabalhador@s da fábrica “Disco de Oro” demonstram que não precisam de patrões

1º DE MAIO DE 2009

“LUTAR CONTRA A CRISE”?
LUTAR CONTRA O CAPITALISMO!

A cada dia que passa, a pretexto da crise, mais e mais trabalhadores são atirados para o desemprego (e os que mantêm os seus postos de trabalho vêem a sua situação piorar), com falências e insolvências, muitas delas fraudulentas, de inúmeras empresas, com cortes nos tempos de trabalho e nos salários, suspensões ou “acordos mútuos” de rescisão dos contratos de trabalho, reformas antecipadas “voluntárias” e outros estratagemas baseados nalguma cláusula prevista no Código do Trabalho.

Perante isto, qual tem sido a reacção?

Exceptuando alguns casos em que os trabalhadores recorreram à arma da greve (com ou sem ocupação dos locais de trabalho), ou em que montaram piquetes de vigilância para impedirem a saída de equipamento das empresas, têm delegado a solução dos seus problemas nas negociações que sindicatos e comissões de trabalhadores conduzem com os patrões e esperado que ministros ou autarcas encontrem soluções para a sua situação.

Além disso, têm tomado uma posição defensiva, na crença que, deixando despedir uma parte dos trabalhadores (por exemplo, e para começar, os precários ou os “ilegais”, justamente os que já estão em pior situação) poderão salvaguardar uma parte dos postos de trabalho; ou ainda, aceitando diminuições dos salários, seja através de redução do horário de trabalho com promessas de recuperação no futuro, seja por transformação das horas extra em horas normais, seja por supressão ou redução de vários tipos de subsídios e prémios de produção não incluídos no salário base.

Quanto a nós, anarco-sindicalistas, NADA pode substituir a acção dos próprios trabalhadores na defesa dos seus interesses, auto-organizando-se para manter e melhorar as suas condições de vida, sem delegar em ninguém a capacidade de decidir aquilo que lhes diz respeito. De facto, a existência de “representantes” permanentes dos trabalhadores faz com que, pouco a pouco, se transformem em “especialistas” e profissionais da luta sindical e adquiram pequenos e grandes privilégios, imediatamente “concedidos” pelos patrões ou consignados nas leis laborais, isto é, deixem de ser trabalhadores como os demais e passem, progressivamente, a defender a sua própria existência e os seus próprios interesses enquanto casta privilegiada, chegando, nalguns casos extremos, a praticamente limitar-se à tarefa de “explicar” aos outros trabalhadores os porquês e os porque nãos das decisões das administrações.

Consideramos, também, a SOLIDARIEDADE uma arma essencial da luta dos trabalhadores, que não podem deixar-se dividir em “fatias” que serão inevitavelmente derrotadas, uma após outra, como se tem visto em tantas empresas e fábricas, e não abdicamos das GREVES DE SOLIDARIEDADE entre diferentes empresas, fábricas, sectores produtivos ou mesmo regiões.

Porém, não podemos iludir-nos quanto à própria natureza do sistema capitalista: ele funciona na base do lucro e da acumulação do capital, baseados no roubo do produto do nosso trabalho, que vai, em seguida, encher os bolsos a capitalistas e financeiros pelo mundo fora, através da especulação bolsista. Foi, aliás, isso o que conduziu à presente crise dos mercados financeiros, porque um esquema de “enriquecimento” contínuo, no qual a “riqueza” cotada em bolsa parecia aumentar indefinidamente à custa de si própria, não poderia durar eternamente – sendo totalmente parasitário, baseado que estava na economia real, na produção real de riqueza, quando esta atingiu o limite esse esquema afundou-se.

Mas os capitalistas e a banca sabiam perfeitamente que isso ia acontecer. Como os Estados e os Governos se apressam, agora, a “socorrê-los”, isto é, a alimentá-los com o dinheiro dos nossos impostos, a crise é mesmo só para nós. É isso que temos que recusar, temos de lutar pela nossa dignidade e pelas nossas condições de vida, bem como da população em geral, mas cientes de que a nossa emancipação da opressão e da exploração a que o Estado e o Capital nos submetem só será plena quando o sistema capitalista e o Estado que o defende e promove forem destruídos e substituídos por um meio social baseado na livre associação dos indivíduos livres e na solidariedade, que promova a igualdade social e no qual não haja lugar para exploradores e explorados, governantes e governados, em suma, sem parasitas nem privilegiados de espécie alguma.

NÃO AOS DESPEDIMENTOS!

CONTRA OS ENCERRAMENTOS DE EMPRESAS E FÁBRICAS, AUTOGESTÃO!

PREPAREMO-NOS PARA UMA GREVE GERAL ACTIVA, COM OCUPAÇÃO DOS LOCAIS DE TRABALHO!

APROVEITEMOS O 1º DE MAIO, NÃO PARA FESTEJARMOS O TRABALHO ASSALARIADO, ISTO É, ESCRAVIZANTE, MAS PARA NOS MANIFESTARMOS CONTRA O CAPITALISMO E O SEU CÃO DE GUARDA, O ESTADO!

Associação Internacional d@s Trabalhador@s -Secção Portuguesa
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domingo, 26 de abril de 2009

1º de Maio Anticapitalista e Anti-autoritário


Manifestação
Jardim Príncipe Real – Lisboa – 16 h



O 1º de Maio evoca aqueles que morreram na luta contra o capital. Desta forma, nunca poderá ser uma celebração. Por outro lado, em circunstância alguma se deverá homenagear uma das suas formas de escravatura: o trabalho ou o estatuto de trabalhador nos moldes de uma sociedade capitalista e autoritária.

A nossa luta é directa e global, contra todxs xs que nos exploram e oprimem, contra o patrão no nosso local de trabalho, contra o bófia no nosso bairro, contra a lavagem cerebral na nossa escola, contra as mercadorias com que nos iludem e escravizam, contra os tribunais e as prisões imprescindíveis para manter a propriedade e a ordem social.

Não nos revemos no simulacro de luta praticado pelxs esquerdistas, ancoradxs nos seus partidos, sindicatos e movimentos supostamente autónomos. Estes apenas aspiram a conquistar um andar de luxo no edifício fundado sobre a opressão e a exploração, contribuindo para dar novo rosto à miséria que nos é imposta.

Recusamos qualquer tentativa de renovação do capitalismo, engendrada nas cimeiras dos poderosos ou na oposição cínica posta em cena pelos fóruns dos seus falsos críticos. Não tenhamos ilusões. Não existe capitalismo “honesto”, “humano” ou “verde”. A “crise” com que nos alimentam até à náusea não é nenhuma novidade. A precaridade não é só um fenómeno da actualidade, existe desde que a exploração das nossas vidas se tornou necessária à sobrevivência deste sistema hierárquico e mercantil.

Porque queremos um mundo sem amos nem escravos, apelamos à resistência e ao ataque anticapitalista e anti-autoritário. E saímos à rua.
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